quinta-feira, 3 de agosto de 2017

A ASTÚCIA DO PODER

(O general Petr Ivanovic Bragation)

"É assim que, no seio das grandes organizações nas quais o campo oficial das responsabilidades ultrapassa largamente, nos postos superiores, a capacidade de responsabilidade do indivíduo (nomeadamente a capacidade de tratar a informação), emergem relações pessoais de confiança muito características entre os superiores e os seus subordinados, entre os postos decisórios e o pessoal, entre os parlamentares e os altos funcionários."

"La confiance" (Niklas Luhmann)

Evidentemente, essa incapacidade de abarcar a responsabilidade nunca é admitida. A própria delegação não é, realmente, uma transferência de responsabilidade e a confiança que tem forçosamente de existir entre quem não sabe mas pode e quem sabe, mas é um subordinado, também não pode ser completamente explícita.

Há aqui, para além de uma pretensão, que não é pessoal, mas que o sistema endossa ao indivíduo, de saber aquilo que assume, uma discriminação do saber, que está sempre dependente do poder. O significado da palavra hierarquia alerta-nos para a ordem das necessidades fundamentais. Onde menos se espera, representa-se uma espécie de comédia de todos os tempos.

Era assim que o general Bragation, em "Guerra e Paz", aprovava os factos consumados como se tivessem sido ideias suas.

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