segunda-feira, 7 de agosto de 2017

A TRANSPARÊNCIA


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"A autoridade é sempre a representação-delegação (vertretung) de uma complexidade que não é explicitada de uma forma detalhada. O seu estilo depende da maneira como é representada esta possibilidade de explicitação."

"(...) a autoridade não é questão de um saber que seria o objecto de um dom e seria apenas acessível a um pequeno número; releva antes de uma competência específica que se aprende e se exerce no modo da divisão do trabalho."

"La Confiance" (Niklas Luhmann)

Isto seria, segundo Luhmann, consequência de não existir mais a verdade do ser por revelar, mas apenas afirmações possíveis e processos de tratamento da informação, processos "instituídos de uma maneira independente em relação a estruturas sociais determinadas, independentemente, sobretudo, de um estatuto superior repousando sobre outras funções, quer se trate, por exemplo, de funções religiosas, políticas ou económicas."

A "transparência", por oposição à complexidade, permitir-nos-ia dispensar as decisões problemáticas e não consensuais. Porque, em primeiro lugar, se o futuro fosse previsível, poderíamos trocar toda autoridade pelo "piloto automático", ou colocar à frente da administração do Estado a cozinheira de Lenine.

O problema é que o estado seguinte do universo nunca pode ser transparente nesse sentido, e a autoridade é, precisamente, o que nos permite agir como se o fosse, como se soubéssemos o futuro e pudéssemos sempre honrar as nossas promessas.

A autoridade é um exemplo daquilo a que Luhmann chama de mecanismo para redução da complexidade.

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