segunda-feira, 10 de abril de 2017

O CONFESSOR E A CHOUANNE


Paula Rego (Série do "Crime do Padre Amaro")


"Se o casamento é a união das almas, o verdadeiro marido era o confessor. Este casamento espiritual era muito forte, sobretudo quando era puro. O padre era muitas vezes amado com paixão, com um abandono, um entusiasmo, um ciúme pouco dissimulados. Estes sentimentos eclodiram com extrema força, em Junho de 91, quando, sendo o rei traduzido de Varennes, se pensou na existência duma grande conspiração no Oeste, e vários directórios dos departamentos resolveram encarcerar os padres."

"História da Revolução Francesa" (Jules Michelet)

Sobretudo quando era puro. Isto é, nada que se parecesse com o idílio de Amaro e da sua Ameliazinha. Essa paixão nunca poderia abandonar a penumbra da sacristia e a alcova clandestina e declarar-se abertamente como piedade e revolta do coração.

Não há nada que se possa comparar, hoje, a essa influência do confessor, em que a sublimação sexual redobrava as energias da convicção.

Ciúmes de facto, amor de facto, mas na situação de extra-territorialidade e de dupla linguagem.

Só podemos encontrar um paralelo naquilo que agora se chama de mundo virtual, em que a vida se vive sem todas as consequências.

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