terça-feira, 4 de abril de 2017

O DIMINUTIVO



(Vassilij Grossmann)


"Vassilij Grossmann, em Vie et Destin - livro tão impressionante no dia seguinte às crises maiores do nosso século - vai mais longe ainda. Ele pensa que a "bondadezinha" que vai de um homem ao seu próximo, se perde e se deforma a partir do momento em que procura organização e universalidade e sistema, desde que se pretende doutrina, tratado de política e de teologia, Partido, Estado e mesmo Igreja. Ela permaneceria no entanto o único refúgio do Bem no Ser. Invicta, ela sofre a violência do Mal que, bondadezinha, não poderia vencer, nem expulsar."

"Entre nous" (Emmanuel Lévinas)


Somos mestres na arte do diminutivo, como se sabe. Traduzo "petite bonté" por bondadezinha e logo a canção revolucionária me vem à cabeça, que cataloga essa bondade entre as ilusões demasiado caras ou a hipocrisia social.

Lévinas refere-se à impotência de uma ideia imanente do Bem, de homem a homem, sem ponte para a Utopia e a transcendência. Quando essa ponte é um segredo para nós mesmos, a bondade pode "atravessar os lugares e os espaços em que se desencadeiam acontecimentos e forças".

Mas dar-lhe forma e corpo é transformá-la em objecto entre os objectos e roubar-lhe a inspiração e o ímpeto.

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