quarta-feira, 1 de março de 2017

LEALDADE E SALVAÇÃO

(St. Hieronymus in meditation - Jan Massys)


"Quando o Novo Testamento foi traduzido do Grego para o Latim por S. Jerónimo, 'pistis' tornou-se 'fides' (lealdade). 'Fides' não tinha forma verbal, assim, para 'pisteuo' Jerónimo utilizou o verbo latino 'credo', uma palavra derivada de 'cordo', 'dou o meu coração'. Ele não pensou em utilizar 'opinor'  
(tenho uma opinião')."
"The case for God" (Karen Armstrong)

A lealdade neste sentido não significava que se tinha de escolher entre a opinião própria e a 'confiança' em Deus ou num superior, na ordem política. Primeiro, porque o direito à opinião  é uma concepção do individualismo, muito mais próximo de nós. É esse direito que, por exemplo, está na base da democracia moderna e do conceito de liberdade de voto. Depois, porque devia ser inconcebível, para o crente dos tempos de Jerónimo, que existissem duas 'jurisdições'. O religioso e o secular não são essa dualidade que atestam, pois é o mundo da crença que estabelece aquela diferença.

Não se pode falar, pois, em opinião, tal como a entendemos hoje. O que nos remete para o filósofo que primeiro estabeleceu a distinção entre a 'doxa' e a verdade: Platão. Será esta opinião ('doxa') que Armstrong diz que S. Jerónimo não escolheu, a favor do 'credo'?

Mas Platão, como já muitos o assinalaram, é um dos modelos 'teóricos' da 'Igreja triunfante'. uma das suas mais lídimas inspirações, a par da tradição hebraica...É a ideia do Bem que torna necessária uma 'desgraça' como a 'doxa'.

Eis porque 'fora da lealdade' não havia salvação.


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